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Esse blog é um espaço para a reflexão de como podemos fazer para Viver de Teatro.
É possível? Vale a pena?
Espero que meus relatos e os comentários postados aqui por vocês possam servir de debate nessa discussão.



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

E lá se foi mais um ano vivendo de teatro...


Ano terminando e momento de retrospectiva.

Posso dizer que consegui viver de teatro! 

Quero deixar um abraço especial a todos os alunos que puderam refletir sobre teatro, aos colegas de profissão que partilharam minhas alegrias e colaboraram nas dificuldades e a todos os milhares de espectadores que assistiram aos meus espetáculos ao longo desse ano.

Esse ano voltei a ser dirigido... Fazia tempo que não me envolvia num projeto apenas como ator (se bem que a gente nunca deixa de pensar na encenação quando se tem um pezinho na direção rsrs). Agradeço a Tânia por ter colaborado com o meu querido grupo na direção de UBU REI, numa montagem de rua, coisa que eu amo. Estendo meu agradecimento aos coordenadores das dezenas de escolas por onde passei e aos professores que foram coordenados por mim no SENAC. Agradeço pela confiança e pela prontidão em compreender que Arte deve ser ensinada de uma forma especial. E finalizo agradecendo a todos os integrantes da Cia Boccaccione que permitem o exercício do meu trabalho estritamente artístico numa linguagem estética instigante e que influenciam no meu aprimoramento. Aqui se encaixam as pessoas que trabalham nos bastidores (iluminação, figurinos, bilheteria...).

Que em 2011 tenhamos o dobro de trabalho com o triplo de qualidade e o quádruplo de cachê! Hehe

Merd(r)a!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Teatro e as Redes Sociais

Não podemos negar a força da internet nos dias atuais. E-mail, Sites, Blogs, Orkut, Facebook, Twitter, Youtube, etc, chegaram com tudo em nossas vidas e podem contribuir muito para a divulgação das Artes.


Sem espaço na televisão e no rádio para a promoção dos eventos culturais as redes sociais se tornam, cada vez mais, lugares democráticos que ajudam como uma vitrine para que os artistas possam mostrar e convidar a população para conhecer seus trabalhos .

Um dos motivos que me levam a participar ativamente desses meios de comunicação contemporâneos é a possibilidade de divulgação dos espetáculos teatrais. Não vejo muito sentido em ter uma lista imensa de pessoas no Orkut, Twitter e outros se esses “amigos virtuais” não freqüentam os meios culturais. Acredito que as pessoas procuram redes sociais para interagirem com outras que partilham dos mesmos gostos. Assim como as comunidades virtuais destinadas a esportistas, por exemplo, devemos fortalecer os espaços dedicados ao teatro para promover debates, convidar para peças, criar promoções, divulgar festivais ou simplesmente conhecer pessoas que procuram viver de teatro.

Vamos colaborar para divulgar o maior número de endereços pela internet que falam sobre teatro?

Abaixo, na medida do possível, vou postando algumas dicas interessantes. Faça isso também!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Teatro para Educadores - a importância da Arte na Sala de Aula

Fico muito entusiasmado com a disciplina Teatro para Educadores que tenho ministrado há dois anos no Centro Universitário Claretiano, no curso de Artes.

Mostrar que teatro na escola vai muito além de “montar pecinhas” é uma oportunidade que vejo em colaborar para a formação de indivíduos que talvez não se tornem atores, mas que terão um olhar mais crítico sobre o fazer teatral. Serão pessoas melhores, trabalharão com seus sentimentos, aprenderão a lidar com a criatividade e o corpo se expressará com liberdade. E certamente serão pessoas que freqüentarão os teatros, como expectadores e, se Dionísio quiser, como futuros atores.

Sou um sonhador otimista. Desejo muito que os novos professores de Artes possam reverter o passado onde as encenações em datas comemorativas dêem lugar ao jogo teatral.

Empenhado e inspirado por Olga Reverbel desenvolvo minha missão como arte-educador.
Que o Teatro invada as escolas e provoque uma explosão de dentro para fora!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Senta bunda na cadeira, estuda e não fala bobeira!

Infelizmente algumas pessoas fazem espetáculos tão ruins, com elencos tão medíocres, que o que sobra é inventar uma polêmica para que sua peça seja comentada no dia seguinte. Mas discutir sobre um olhar artístico o trabalho só é possível com quem realmente é importante para o cenário teatral.
Não tenho paciência para pessoas que antes deveriam estar na sala de aula como alunas e não como professoras.

Começo esse texto com um comentário rude para falar sobre a importância do estudo em nossa área. Cobramos tanto das pessoas um respeito sobre nossa profissão, mas nós mesmos, às vezes, não nos respeitamos.

Teatro é coisa séria (e brincadeira ao mesmo tempo) e para que possamos ter o respeito da população e o investimento, seja ele governamental ou privado, temos antes que investir em nosso material de trabalho.
Quando atores, o nosso corpo, nossa voz, nosso intelecto, nosso espírito. Quando diretores, a nossa observação, nossa intuição, nosso olhar. Quando professores, nossa didática, nossas bibliografias.

Enfim... nosso material de trabalho mais importante, seja qual for a área de atuação teatral, é a sensibilidade!

O estudo dá embasamento para a realização da nossa arte. Com o conhecimento conseguimos ir mais longe, olhando para o que já foi feito e almejando onde ainda podemos chegar!

Merda!

sábado, 20 de novembro de 2010

Commedia dell´Arte - quem pode faz, quem não pode bate palma ou... da diversidade do Teatro em nossa cidade

Diante da diversidade de grupos de teatro de Ribeirão Preto vejo quão rica é a produção cultural de nossa cidade.
As pesquisas vão do Clown ao Teatro Pós Moderno, com acertos e erros, mas com a busca, que é o mais importante nisso tudo.

Faço parte de um grupo que teve início a partir da pesquisa na área da cultura popular. Já realizamos diversos cursos, viajamos aprendendo danças e músicas populares e encontramos na rua essa manifestação mais eficaz. Como a cultura é viva ela não se empedra e nossos trabalhos vêm nesses últimos anos evoluindo ora dentro de nossa própria pesquisa ora convidando pessoas para agregar suas estéticas ao nosso trabalho.
Embora tenhamos feito o espetáculo “Ai, amor...” inspirado na obra de Molière, que por sua vez se inspirou na Commedia dell´Arte na construção de seus personagens, nunca fizemos um estudo sobre a Commedia dell´Arte que resultasse numa peça.

Vejo muitas pessoas que nunca estudaram teatro na vida (nem sei se estudaram alguma coisa) tendo a pretensão de se colocarem como críticos de teatro e avaliando que em nossa cidade só fazemos Commedia dell´Arte.

O único grupo profissional de Ribeirão Preto que trabalhou com uma pesquisa fundamentada na Commedia dell´Arte foi o Fora do SériO. Só por ser o grupo mais importante da cidade, reconhecido por dezenas de críticos que nos deparamos na estrada, merece muito respeito. Escrever de forma depreciativa sobre essa face do teatro é se esquecer de que foi na Commedia dell´Arte que os atores foram vistos pela primeira vez como profissionais. Poderia até escrever uma aula aqui sobre a Commedia dell´Arte, afinal sou preparado para isso e detenho esse tipo de conhecimento, mas prefiro estimular a pesquisa daqueles que não conhecem ainda esse período maravilhoso da história do teatro que inspirou diversos autores, entre eles o atemporal W. Shakespeare. Pra realizar um trabalho nessa linha é preciso um treinamento corporal de jogo com a máscara intenso, pois sabemos que Commedia dell´Arte sem máscara não existe.

Essa forma de criação de teatro ainda é viva e pulsante. Ainda faz com que o público se questione através de um riso que parece ingênuo, mas que continua nos fazendo ver nesses tipos como servos, patrões ou, simplesmente, enamorados.

Antes de fazer o papel do “Dotore” – personagem falastrão, que fingia conhecimento e soltava umas palavras em latim que nem ele sabia o significado – é importante olhar para o que realmente Ribeirão Preto tem produzido. São prêmios, críticas e turnês que coroam diversos grupos, reconhecendo a qualidade desses trabalhos.

Eu, como diretor de diversas peças da Cia Teatral Boccaccione, nunca montei um espetáculo de Commedia dell´Arte, embora seja um apreciador desse potencial de teatro. O próprio UBU REI, nosso trabalho atual onde trabalho apenas como ator foi pensado a partir do corpo do bufão, mas isso já seria uma outra pauta para nosso Blog.

Fico com as palavras de Toninho do Valle, crítico teatral: “O teatro tem mil facetas e suas mil facetas hão de ser mostradas”.

Merda!

I Festival de Teatro de Ribeirão Preto

Após anos de reivindicações conseguimos realizar o I Festival de Teatro de Ribeirão Preto, uma parceria entre a Prefeitura, SESC e os artistas envolvidos com a arte teatral da cidade.

A Secretária de Cultura Adriana Silva não mediu esforços para juntamente com Flávio Racy, representando os atores no Conselho Municipal de Cultura, criar um edital que desse a oportunidade dos grupos da cidade mostrarem “suas caras” para a população. Os grupos selecionados tiveram a oportunidade de, por meio de debates ao final das apresentações, discutirem o processo criativo com o objetivo de aperfeiçoar o trabalho.

Foi um momento fantástico de estrema democracia. Ainda por ser o primeiro temos muitas coisas a melhorar, como uma mais rigorosa seleção dos críticos e dos espetáculos e a busca por uma estrutura técnica mais primorosa.

Com o tempo, desejo que o Festival possa se abrir e outros grupos possam se inscrever para que a troca nos tire do provincianismo que, às vezes, insiste em perpetuar.

Um momento muito importante foi o Fórum sobre de Teatro já preparando a próxima edição, abrindo oportunidade para um diálogo entre todos os realizadores desse projeto.

Vida longa ao Festival!
Merda!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tipo de Diretor


Tenho encontrado em minha carreira com dezenas de diretores. Alguns com quem eu trabalhei, outros que são apenas colegas conhecidos.

Uma coisa que me incomoda é aquele que faz “Tipo de Diretor”.
Esse sujeito raramente vai ao teatro se alimentar da própria arte que bebe (será que bebe?). Quando vai assistir a algum trabalho se põe a tecer inúmeras críticas. Não que ele esteja falando mal, já que ele detém um conhecimento imenso acerca do assunto. O que ele deseja é colaborar para o aprimoramento dos atores.

Mas o duro é na hora do trabalho... Ele se coloca como ser superior. Sua técnica é inovadora (poderia estudar mais sobre História do Teatro) ou ele é um seguidor de algum mestre encenador. Debruça seus comentários sobre a pesquisa que desenvolve a tempos sobre aquela forma de fazer teatro.
Quando fala com algum ator sempre o trata como um imbecíl que não consegue compreender sua arte. Um ator para esse Tipo é sempre alguém que não tem talento, mas se ele trabalhasse com um ator bom mesmo seu trabalho iria estourar!

Na verdade tudo isso é Tipo!

Você deve conhecer alguém assim. Fuja dele o quanto antes...

O ator é o centro da nossa arte, devemos pensar o teatro para que esse ator desenvolva sua técnica e sua emoção. O diretor, ao meu ver, deve ser o olhar do público, coordenando o espetáculo, mostrando caminhos e possibilidades, organizando idéias.
Nenhum diretor tira nada do ator. O ator oferece quando quer. Um diretor pode provocar, estimular, propor, mas a arte teatral não é dele.

O teatro é a arte do Ator!

sábado, 25 de setembro de 2010

Leis de Incentivo à Cultura

Uma lei de fomento ou de incentivo cultural deve propiciar ao grupo um momento de investimento na qualidade da pesquisa teatral.

Muitas “companhias” se formam única e exclusivamente para captarem verbas através de projetos públicos ou privados que tem a intenção de beneficiar diversas áreas culturais.

É um pensamento que nada compactua com o propósito de uma pesquisa artística. Grupos se formam por ideologia de pensamento, uma busca estética ou diversos outros motivos, mas quando o foco é captar dinheiro a intenção se dilui.

As empresas têm deturpado os projetos de estímulos culturais, fazendo marketing com uma parcela do imposto que deveria ser destinada ao incentivo de grupos que estão fora dos grandes pólos culturais e que lutam para sobreviver de migalhas. Outros projetos são aprovados por influência política, seja de governantes, seja de uma politicagem que ocorre dentro das instituições. Basta ver que os grupos beneficiados são sempre os mesmos. Parece um cartel cultural.

Sei que é triste e pesado falar sobre isso, mas é preciso que tomemos consciência do enfraquecimento dessas leis em virtude da falta de critério ético e artístico.

No âmbito federal temos a famosa Lei Rouanet, em São Paulo temos o PROAC e algumas cidades estão elaborando as leis de fomento municipais.
Alguns prêmios como o Miriam Muniz e Funarte também beneficiam com verbas em dinheiro o estímulo cultural. Itaú, CPFL, Caixa, SESI, entre outros também procuram contribuir nesse sentido.

Não sou contra, pelo contrário, sempre envio projetos do meu grupo, já fomos beneficiados, mas o que quero pontuar é que não se pode pautar a vida de um grupo teatral nesses projetos. Temos que fazer nossa arte independente disso, pois se num ano o projeto não for aprovado, como faremos para continuar a pesquisa? Se fazemos teatro, fazemos por objetivos que vão além da captação de recursos. Precisamos ir em busca da platéia, da formação do público, de políticas culturais que favoreçam os trabalhadores da área artística.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Momento Político

Alguns atores acham "um saco" falar em Política. Ignoram o fato de que discutir e eleger bons governantes pode ser vital para nossa profissão.

Os candidatos que aí estão nada falam sobre as propostas na área cultural. O Lula nada fez de eficaz, Gilberto Gil foi enfeite de estratégia de Marketing. Não vou falar de Dilma porque quem faz campanha por ela é nosso então presidente. Como nem ela fala por ela, vou me calar.
Serra fez o tímido PROAC que muda a toda hora.
Marina foi a única que levantou esse tema numa reunião específica. Ela só tem 11% dos votos, segundo pesquisas...

Dizem que Cultura não dá voto.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Festival Nacional de Penápolis

Com muito entusiasmo, cheios de idéias, repensando o teatro voltamos da longa viagem de Penápolis para Ribeirão Preto.

Impressionante como uma cidade pequena no tamanho consegue realizar um Festival de Teatro de tão alto nível.

Os jovens atores da cidade, coordenados pelo incansável Colevati, nos aguardavam sedentos. Tivemos uma lista grande de espera para a oficina que só tem lugar para 16 pessoas. Juntos fizemos uma belíssima apresentação de UBU REI na praça da Feira da cidade, com trem passando ao fundo e bêbado entrando em cena (coisas do Teatro de Rua)...

Na noite anterior assisti ao espetáculo O ANEL DE MAGALÃO com os alunos do curso de Arte Dramática do SENAC Araçatuba dirigido pelo queridíssimo Alexandre Melinsky. Alexandre foi um dos debatedores do Festival e nos ajudou na reflexão sobre nossa proposta. Claro que reencontra-lo sempre é um sinal de FESTA (RA). Bons momentos garantidos.

Conheci pessoalmente Toninho do Vale, um homem de teatro que a experiência é vista através do brilho no olhar e no respeito quando usa a palavra para apontar suas críticas.

Não posso deixar de citar nossos anjos Ricardo e Paulo que foram nossos mapas e companheiros para todas as horas!

No final do domingo, já cansados por todo o trabalho, tivemos o privilégio de discutir Teatro de Rua com a TRUPE OLHO DA RUA de Santos que apresentou  ARRUMADINHO.

Foi um momento especial, de confirmação de que estamos no caminho certo, de elogios que validam nossa proposta artística e de críticas que nos ajudam a progredir. Um momento importante para aumentar nossos contatos e fortalecer essa rede que é o teatro de grupo.
Com toda a certeza valeu a pena nossa participação nesse Festival, saímos modificados, transformados pela arte...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima"

(Paulo Vanzolini)


Projetos, projetos e mais projetos! São intermináveis, difíceis de formatar, caros para enviar, enfim, um esforço imenso para buscar recursos através das leis de fomento cultural.

Não é fácil nesse país ser artista-professor-produtor e muitas vezes mais diversas outras coisas. Damos nosso sangue para que nossos projetos sejam aprovados. E muitas vezes não são.

Com expectativa aguardamos ansiosos pela lista dos contemplados. Olhamos, olhamos de novo, olhamos mais atentamente... e... Cadê o nosso projeto? Não foi dessa vez.

Por que não deu?

Podemos encontrar diversas respostas: O governo sempre beneficia os mesmos, as empresas querem patrocinar as ‘celebridades’, a formatação não agradou, o orçamento ficou confuso, o grupo ainda é novo para que se apostem, o projeto não era interessante... (vamos falar sobre essas questões nas próximas postagens)

O que não podemos é esmorecer. Não fazemos nossa arte para captação de recursos. O Teatro é algo maior. Nossos ideais ultrapassam qualquer desilusão. Claro que com dinheiro a viabilização de alguns sonhos são possíveis e a qualidade do trabalho tende a aumentar, mas artesanalmente continuamos fazendo nosso trabalho.

Com uma visão bem otimista termino: Um dia sai, aí ninguém nos segura!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma pausa para o descanso (?)


Nesse feriadão de 7 de setembro fui descansar no rancho de um grande amigo, em Miguelópolis.

Entre muita sombra e água fresca os dias (e as noites) eram regados por drinks e muita conversa e risadas. Quando me perguntaram sobre o que eu fazia, disse: Teatro!
Todos aqueles amigos do meu amigo, que não me conheciam, se espantaram e quiseram saber maiores detalhes. Eu disse que era ator, professor e diretor de teatro, que fazia parte de um grupo, etc, etc...

Muitos me indagaram sobre TV, se eu não tinha vontade de ser ator da Globo e tal... Quando falei que meu interesse é a pesquisa na área teatral, por incrível que pareça, algumas pessoas se interessaram e me bombardearam de perguntas sobre estrutura de grupo, como buscamos recursos para montagem de espetáculos, qual o perfil de um ator para “entrar” no grupo... Várias perguntas num país onde a arte teatral é um mistério, onde as pessoas conhecem apenas o glamour da nossa profissão e não fazem a menor idéia da batalha que travamos para seguir vivendo de teatro.

Voltei do Rancho feliz. Renovado pelos dias maravilhosos que passei e com a certeza de que esclareci muita coisa para uma meia dúzia de pessoas que, certamente, olharão o teatro com outros olhos!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Movimento Pró-Arena


Observando blogs e microblogs vi que domingo houve um pic-nic no Teatro de Arena que resultou num abraço simbólico daquele maravilhoso teatro.

Sim! O Arena é nosso patrimônio e precisa ser abraçado pela classe artística, pelos governantes responsáveis, pelas empresas e por toda a sociedade.
Temos em Ribeirão Preto um teatro construído aos moldes dos teatros gregos, um lugar lindo e que proporciona uma celebração incrível quando se apresenta lá.

Eu já tive a oportunidade de me apresentar por duas vezes no palco do Teatro de Arena. A sensação é a de que o público te engole, você vai para dentro da alma de quem assiste o espetáculo. É arrepiante, fantástico, indescritível.

Para que esse espaço cultural fabuloso possa voltar a exercer suas funções é preciso investimento, reforma e projetos movimentem aquela área.

O Teatro de Arena está localizado no Morro de São Bento, em frente fica o Teatro Municipal e bem perto temos a Secretaria de Cultura. Já ouvi vários comentários de pessoas diferentes dizendo que não freqüentam o Arena porque os banheiros estão destruídos, porque alguns malandros extorquem dinheiro para “olharem” os carros e por aí vai...
Mas a quantidade de gente que é apaixonada por aquele Teatro é infinitamente maior do que esses problemas. E esses problemas podem ser solucionados a qualquer momento. Força política, policiamento...
Não posso deixar de refletir que o Teatro de Arena pode vir a ser um espaço importante para quem decide viver de teatro. Com a casa arrumada o público poderá voltar e os atores poderão exercer seu ofício numa arquitetura que colabora na visibilidade e na acústica.

Para aqueles que não têm essa informação: o Arena está aberto para projetos de artistas de Ribeirão Preto com isenção de taxas!

Eu sou a favor do Arena e se preciso for vou até lá bater o tambor clamando aos deuses que algo seja feito para o Templo do Teatro.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sábado é dia de ... trabalho!

Para muitas pessoas sábado é um dia de descanso, de ir ao clube, ver um filme no cinema, fazer compras no shopping, visitar a família, dia de futebol, churrasco...
Nós que vivemos de teatro descobrimos que estamos no caminho certo quando o fim de semana passa a ser um dia de trabalho.

Poderia ter escrito no título que sábado é dia de teatro, mas é certamente um dia de trabalho. Não existe só o prazer em fazer teatro existe o esforço para se fazer teatro.
Durante a manhã nos preparamos e organizamos o material de cena, vamos até o local escolhido para a apresentação, determinamos o espaço cênico a ser realizada a peça e montamos o cenário. Em seguida ministramos uma oficina de 2 horas e depois seguimos para a apresentação do espetáculo. Mas o trabalho não termina aí. Quando o sol se despede ainda estamos desmontando todo o arsenal e levamos para a sede do grupo onde finalizamos nosso dia de trabalho.

Esse procedimento ocorrerá todos os sábados até o fim do ano. Graças a Deus! Desejamos isso, fizemos um excelente projeto que foi aprovado pela secretaria municipal de cultura e agora estamos realizando nosso ofício.

A peça em questão é Ubu Rei, uma adaptação de Alfred Jarry, que contou com a direção de Tânia Alonso (Grupo Fora do Sério). Nesse novo espetáculo de rua nós da Cia Teatral Boccaccione ousamos em inserir no elenco da peça pessoas que não fazem partedo grupo e que, às vezes, nem são atores. Sim! Quando vamos até um determinado bairro ministramos uma oficina introdutória e preparamos quem participou da oficina para que faça parte da peça.

É uma ousadia gostosa, uma loucura sensata... Isso ajuda a peça nunca se cristalizar. A cada sábado temos a certeza de que será um dia de muito trabalho, mas também um dia de muitas novidades, de coisas imprevistas, de reformulação do método (se é que existe método).

Não podemos reclamar do excesso de trabalho, do cansaço ao carregar tanto peso, dos parafusos que não encaixam direito. Temos que celebrar! É a certeza de que estamos no caminho certo de quem quer viverde teatro.

E viva o Pai Ubu! Merd(r)a!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sem fôlego para viver de teatro

Sim! Fiquei longe do blog por alguns dias.


Graças a Deus está acontecendo comigo algo que nós, artistas, almejamos. Meu grupo de Teatro conseguiu uma excelente produtora que tem vendido muito bem nossas peças. Não é porque sou o diretor, mas estamos realizando um bom trabalho. A cada dia nos aventuramos na descoberta de uma linguagem, nossos trabalhos são frutos de pesquisas e por onde temos passado temos também deixado marcas positivas.

Fizemos uma temporada maravilhosa em São José do Rio Preto. Levamos dois espetáculos infantis (O Pássaro das Mil Cores e O Flautista de Hamelin) e um adulto (A Igreja do Diabo) para o Sesc. Além disso, fizemos uma itinerância através do Sesc de Ribeirão Preto por escolas municipais de educação infantil com Lili do Rio Roncador, texto adaptado da obra de Lucílica Junqueira de Almeida Prado no projeto Tirando de Letra. E, pra coroar essa boa fase de vendas, nos apresentamos na 10ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto o projeto Histórias para Cantar, uma mistura de Teatro, Música e Contação de Histórias inspirado na obra de Ziraldo. Ainda participamos do Festival de Teatro de Guaíra com apresentações e oficinas e encerramos o mês em minha cidade Natal, Cajuru, onde não me apresentava há 6 anos.

Estamos também a todo vapor trabalhando na montagem de rua com o texto Ubu Rei. Convidamos Tânia Alonso para nos dirigir e isso tem consumido boa parte de nosso tempo na pesquisa corporal que o trabalho exige para a realização do espetáculo.

Em breve vou escrever aqui sobre essa experiência!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cia Teatral Boccaccione

Em 2005 dirigi na ONG Ribeirão em Cena a peça FAUSTINO, UM FAUSTO NORDESTINO, texto de Eliane Ganem. Os atores deram dinheiro do próprio bolso para comprarmos o cenário e os figurinos. Foi um sucesso! Levamos um público que aquele lugar nunca tinha visto. Empolgados com isso conseguimos pequenos apoiadores, a liberação do texto pela autora e fizemos uma breve temporada no pequeno espaço cênico Débora Duboc.


Os alunos, empolgados, me convidaram para realizarmos um núcleo de pesquisas em cultura popular. Eu estava muito interessado nessa linha de pesquisa e aceitei sem hesitar. Propus ao coordenador a realização dentro da ONG desse núcleo e ele não aprovou dizendo ainda que a peça Faustino era do Ribeirão em Cena, por ter sido realizada utilizando o professor e espaço físico da ONG. Resolvemos realizar as reuniões do núcleo de pesquisas em Cultura Popular Brasileira na casa de um dos integrantes, cientes que deveríamos criar um novo trabalho.

Na busca por um nome fizemos uma lista, colocamos no Orkut e saímos procurando se já existiam grupos com os nomes selecionados. Como a vontade de falar o que quiséssemos era grande mas não podíamos por estarmos reféns de situações que nos oprimem a personagem Boccaccione com sua máscara de boca imensa de alguma forma nos sensibilizou. Batizamos o grupo de Companhia Teatral Boccaccione.

Nesse meio tempo houve a falha trágica. Um ator inscreveu a peça Faustino num festival de teatro como Boccaccione, sendo que o combinado era colocar Ribeirão em Cena. Nesse momento toda a cólera caiu sobre nós. Fomos expulsos da ONG, o ator que fez a inscrição, com seus 60 anos foi humilhado e nossas desculpas não foram aceitas. Erramos sim, mas era um erro passível de correção. Não quiseram explicações.

Dizem que o Boccaccione nasceu do Ribeirão em Cena, eu digo que não. Foi preciso que o grupo morresse no Ribeirão em Cena para que ele nascesse para uma vida nova. Após a briga toda o grupo se desfez, muitos atores não quiseram mais continuar e por isso fomos agregando outras pessoas que foram colaborando para reestruturar. O desejo de fazer arte foi maior que o medo e que o desânimo causado pela punição. Onde iríamos ensaiar? Onde iríamos nos apresentar?

Do grupo inicial restou o Michel e a Nathália. Logo em seguida vieram Marcelo, Lilian e Naná. Somado a esse elenco tínhamos pessoas especiais como Aline e Edircéia. Escolhemos um novo trabalho e fomos desenvolver a pesquisa do teatro de Rua. Com o Velho da Horta de Gil Vicente, em Setembro de 2006, na feira do Livro, a convite da querida Tereca Corbani, estreamos a Companhia Teatral Boccaccione. Nossa linguagem, nossa essência, vêm desse desejo de fazer teatro, dessa ressurreição que se levanta depois de ser esfacelada. Hoje, fazem parte desse grupo Milton e Karol, ainda passaram deixando suas marcas eternas e contribuindo para a linguagem do grupo Tiago, Jéssica e Fábio.

A vida me deu a oportunidade de fazer parte de um grupo de teatro tão talentoso. No início, trabalhando apenas como diretor, por ser o mais experiente do grupo e afinando nossa estética teatral que se aprimora a cada espetáculo, hoje, atuando junto com todos e realizando plenamente minha vocação.

sábado, 10 de julho de 2010

Cia Cornucópia em minha vida

Ser ator é algo complicadíssimo. Para se jogar de corpo e alma nessa profissão é preciso muita PAIXÃO. Amar loucamente e sofrer por esse amor. Muitas vezes o cachê é baixo e as pessoas acreditam que sua realização profissional está ligada em aparecer na TV Globo. Muitos amigos dizem: “quando você estiver no Faustão...”


Ser ator é muito mais que isso. É a profissão que escolhi para a minha vida. É minha vocação. Por isso, evito entrar em trabalhos que não acredito. Passei a maior parte da minha carreira profissional como professor por faltar um bom convite como ator.

Dentre os trabalhos que fiz vou me ater a citar alguns, poucos, mas importantes. Em Cajuru, enquanto trabalhava como professor de Teatro na Casa da Cultura fui convidado pelo diretor Dino Bernardi, grande influência, para atuar em alguns trabalhos. Foi um período de muito crescimento. Além da exigência dele como diretor havia a minha para responder aos estímulos que ele me dava.

Em 2006 fui convidado por Dino Bernardi para integrar a Cia Cornucópia. Realizamos algumas reuniões e formamos um elenco muito bom. Ao meu lado estavam pessoas que eu admirava muito: André Cruz, Tânia Alonso, Renata Martelli, Karina Gianecchini. Logo no início de nossa pesquisa com o espetáculo não concretizado KRATZ fomos convidados pela prefeitura de Ribeirão Preto para montar um espetáculo para a Feira do Livro. Chamamos o Fabricinho, Juliano e minha ex-aluna Dani e fizemos A HISTÓRIA DO AMOR DE ROMEU E JULIETA de Ariano Suassuna.

Foi um sucesso a montagem. Pela primeira vez tive a sensação de estar no caminho certo do crescimento profissional. Diversas apresentações, excelente crítica no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, participações extremamente positivas em vários festivais e, finalmente, apresentações na Capital de São Paulo. Bons cachês e o êxito no trabalho não impediram que o elenco fosse se desfazendo. Um pouco em busca de uma linguagem mais autônoma, outros por discordarem da estrutura do grupo, enfim, cada um com seu motivo.

Hoje sou um admirador da Cia Cornucópia, por quem tenho um imenso carinho. Fico muito feliz quando vejo o querido diretor Dino Bernardi colocando no palco o enorme talento que tem e principalmente em investir em atores que estão no começo de suas carreiras, exigindo e tirando deles o melhor, lapidando cada jóia para que o brilho deslumbre a todos que apreciam um verdadeiro teatro.

Professor Universitário

Graças a Pós-Graduação que fiz em 2006 na Universidade de Franca somada à experiência de alguns anos como professor fui convidado para ministrar aulas no Centro Universitário Claretiano de Batatais.

Comecei como professor no curso de Artes, depois, dei aulas para os alunos de Letras, Educação Física e Pedagogia na disciplina Teatro para Educadores. Hoje faço parte, também, da tutoria no sistema de Educação à distância.

As aulas consistem em preparar esse futuro educador para o desenvolvimento do teatro em sala de aula. A tarefa mais complexa é mostrar que o Teatro é muito mais do que montar uma “pecinha” em datas comemorativas. Teatro é Jogo! Procuro mostrar aos alunos a maravilhosa experiência de implantar os jogos teatrais que libertam a expressão criativa dos alunos. De Viola Spolin a Boal. Quando um aluno vivencia essa experiência fantástica da improvisação de cenas, montar a peça se torna o resultado final de um estudo aprofundado do fazer teatral. O espetáculo deve ser sempre conseqüência, nunca a meta.

Fico muito feliz em contribuir para uma renovação na forma de introduzir o teatro na vida dos futuros expectadores. Se desejamos ter uma população que freqüenta teatro é importante que construamos uma base sólida.

Todas as escolas públicas têm uma quadra poliesportiva. Raramente encontramos uma escola com um teatro para as artes cênicas. Essa constatação simples nos prova o porquê somos o país do futebol e não do teatro. Acredito que com uma verdadeira EDUCAÇÃO ARTÍSTICA vamos conseguir um público com visão crítica, senso estético e que buscarão por bons espetáculos.

domingo, 16 de maio de 2010

Projetos Sociais



Sou envolvido em dois projetos sociais que tem o desejo de inserir os jovens que estão a beira da marginalidade na área cultural.
Em Cravinhos já estou há 4 anos e o projeto rende frutos incríveis. Hoje a turma está aberta a experimentação teatral, se envolve nos exercícios e se lança em cenas das mais variadas e criam o tempo todo.
Mas não fique pensando que sempre foi fácil. No início, envolver os jovens era um desafio. Saí muitas vezes das aulas desanimado, sem voz, sem desejo algum de voltar. E, se continuei, foi por causa do dinheiro. Sim, para viver de teatro é preciso muito sacrifício. Nem todos os trabalhos são os melhores do mundo e nem todos os projetos culturais te dão enorme prazer ao realizar.
Minha primeira recompensa veio com a seguinte história: Um jovem, durante as improvisações, estava muito bem num determinado papel. Quando trouxe o texto escrito para eles realizarem uma leitura, pedi para aquele jovem ler determinada personagem. Ele me surpreendeu dizendo que não sabia ler. Meu coração partiu. Senti pena, medo e muitas outras coisas. Mas ele disse que iria levar para a casa o texto e que a irmã o ajudaria a decorar. Confiei nele e foi isso que aconteceu. A irmã lia o texto em voz alta e ele memorizava. Uma semana depois ele estava no ensaio com o texto decoradíssimo e os outros, que sabiam ler, nem tinham estudado o texto em casa. Nos apresentamos. Foi um sucesso! E aí aconteceu a magia. Quando uma pessoa se apresenta e recebe os aplausos no final, alguma coisa dentro dela muda. E ele se transformou. Fiquei sabendo que ele havia procurado a coordenação desse projeto para pedir que o matriculassem em uma escola para que ele pudesse aprender a ler para realizar outros papeis no teatro.
São histórias como essa que impulsionam a seguir, mesmo em ocasiões adversas.
Hoje continuo em Cravinhos e iniciei um projeto semelhante em Serrana. Além de serem pequenas cidades do interior de SP essas cidades têm em comum muitas coisas. Jovens desassistidos pelo governo, pessoas sem acesso a cultura, mas que, quando regadas pela arte, florescem com talentos valiosíssimos.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Oficina de Artes



Faz parte da missão de viver de teatro, em minha vida, dar aulas. E isso me revigora. A cada ano uma turma nova, novos alunos, novos desafios.
Convidado por Beth Pizani a integrar o elenco de professores da Oficina de Artes já me dedico, há um bom tempo, a ministrar aulas de teatro num curso livre e muito dinâmico.
O perfil dos alunos é o mais variado possível. Desde aqueles que querem seguir a carreira como ator até outros que fazem para perder a timidez ou por simples diversão.
Aulas descontraídas e peças deliciosas colaboram para me envolver por mais de 4 anos nessa escola. Além disso, conto com o apoio em relação a figurino e cenário e de um suporte técnico de dar inveja. A infra-estrutura da sala de teatro é de primeira linha. Um acervo fantástico de acessórios e adereços compõem o espaço cênico. O palquinho é uma graça, me lembra demais as imagens do Tablado (RJ).
 Sabe um lugar gostoso de estar? Lá é um lugar assim.

sábado, 8 de maio de 2010

SENAC

Em 2007, junto com a turma Técnico Ator, iniciei como professor no Senac – Ribeirão Preto como docente na disciplina de Interpretação. Uma turma interessante, plural, com talentosos misturados com esforçados, e que resultou na montagem da peça O Santo Milagroso de Lauro César Muniz. Durante o andamento do curso recebi o convite para ser coordenador, organizando cronograma, analisando a proposta pedagógica do curso em andamento e agindo na relação dos alunos com a entidade.


Hoje o curso mudou de nome, chama-se Técnico em Arte Dramática por determinação do MEC e estou mais familiarizado com as burocracias exigidas e as dificuldades em se implantar um curso de teatro num espaço hostil à área cultural.

O que tem de muito bonito dentro disso tudo é o desejo, o brilho nos olhos, que a maioria dos alunos mostra. Essas coisas compensam aqueles alunos que querem que o curso, os horários e as disciplinas se adequem às suas vontades e alguns professores que insistem em conquistar seu espaço atropelando os outros.

Estar no Senac é motivo de muita alegria para mim. Pagamento em dia, direito a férias e registro em carteira é um privilégio para quem decide viver de teatro nesse país. Muitas vezes parece que nossa arte não é trabalho e que fazemos isso por amor apenas. É claro que somos apaixonados pelo nosso ofício, mas ser reconhecido, valorizado e remunerado faz parte da dignidade de quem dedica a vida para dar ao mundo um olhar artístico da realidade.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ribeirão em Cena



Ribeirão Preto é uma cidade que eu amo. Desde criança essa terra me causava enorme fascínio. Um dia recebi um telefonema de minha querida amiga Samantha Calsani dizendo que estavam procurando um professor de teatro para dar aulas no Ribeirão em Cena.

Participei de uma entrevista com o coordenador Gilson Filho e ao final já estava contratado.
Além de receber um ótimo salário havia a possibilidade de crescimento profissional e a afinidade com uma metodologia que priorizava a formação do aluno-artista.

Foram anos de aulas de voz e cultura popular brasileira. Várias direções de peças, noites temáticas, intervenções cênicas. Incontáveis manifestações políticas para garantir o futuro da ONG.

Enquanto trabalhei por lá a estrutura era a seguinte: a Usina Santa Elisa pagava o aluguel do teatro-escola, a prefeitura pagava os salários dos funcionários e a ONG administrava tudo.

Engraçado como o nome Espaço Cultural Santa Elisa pegou mais que Ribeirão em Cena. Foi um período intenso, conheci alunos que se tornaram amigos pessoais. Dias inesquecíveis de muita criação, pressão, risos e lágrimas, crescimentos e frustrações. Coisas que precisamos passar para nossa lapidação profissional.

Brecht, Antunes, Taoísmo, Humanismo, Paulo Freire, Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Bucovski, Jorge Amado, Hilda Hilst, e tantos nomes e pesquisas foram feitas para aperfeiçoar a criação livre e espontânea do Ator.

Em 2005 dirigi um sucesso de público. Eliane Ganem, a partir da literatura de cordel, recriou o mito do Fausto com um olhar extremamente brasileiro. Faustino, um Fausto Nordestino foi um espetáculo que misturou dança, sanfona e tecido de chita. Somando forças dos alunos, amigos e familiares, conseguimos uma produção estética bastante característica e demos uma cara cômica para um lugar que levava as coisas de forma tão sisuda. Conseguimos mostrar que para o pensamento crítico sobre onde estão alicerçados nossos valores a comédia nos ajuda a refletir melhor. Fomos para Febem, fizemos temporada no pequenino Espaço Débora Duboc e muita coisa ainda nos aguardava. Aquela força iria gerar e motivar uma geração nova de atores e atrizes e me colocar na situação, talvez mais séria, como diretor.

Foram quase 5 anos de dedicação no Ribeirão em Cena. Muitas peças foram montadas, incontáveis alunos passaram por mim. Um belo dia de janeiro de 2008 recebi, por telefone, a informação de que eu estava demitido. Perguntei o motivo, ainda atordoado e sem esperar por aqui naquele momento, e fui informado que era uma pressão política.
Perdi o chão por uma semana até receber outros dois telefonemas: um, do Senac atribuindo para mim a coordenação do então curso Técnico Ator, outro telefonema do Sesc, me convidando para iniciar o projeto com a terceira idade.

Coisas de quem vive de teatro... Um dia se perde muito, outro dia se ganha muito mais... Ganha-se asas maiores que te fazem voar além do imaginável!


‘O destino a gente faz por meio do próprio braço' (Faustino, um Fausto Nordestino, de Eliane Ganem)

sábado, 17 de abril de 2010

O Aperfeiçoamento da Didática


Em Cajuru fui convidado para integrar o quadro de funcionários da Casa da Cultura. Na gestão da prefeita Margarida do Nascimento, com a secretaria administrada pela competente Érika Moretini, o teatro em Cajuru viveu seus tempos áureos.

Minha grande surpresa foi que, para responder como diretor artístico da Casa da Cultura, a prefeitura contratou Dino Bernardi, que era meu professor na faculdade e se tornou um grande mestre que influencia até hoje no meu senso crítico e estético teatral.

Foi um período intenso, quatro anos de muitas produções de espetáculos e um grupo de alunos que se tornaram amigos para a vida toda.

Além das funções como professor, fui convidado para participar de inúmeras peças, contações de histórias e intervenções cênicas, dirigidas pelo Dino, que alimentava meu trabalho de ator e estimulava minha permanência na cidade Natal.

Não posso me esquecer de citar a extinta Mostra de Teatro Estudantil que Cajuru sediava, promovendo um intercâmbio entre diversas pequenas cidades que ali circundavam. Os alunos esperavam, ansiosos, por esse evento que agitava a vida cultural da cidade.

Quando outro governo assumiu a prefeitura, fiquei sabendo que nem o Dino nem a Érika continuariam a trabalhar na Casa da Cultura e, por acreditar que o trabalho teatral depende muito da equipe, não apareci mais por lá. Eles também não me procuraram. Foi um favor mútuo! E alcei vôos para uma nova etapa da minha vida.
Mudei para Ribeirão Preto e mergulhei de cabeça nessa nova fase... 

domingo, 11 de abril de 2010

Meu Primeiro Emprego

Em 1999, de agosto a dezembro, ministrei aulas de teatro no Serviço de Apoio Cajuruense à Infância, em Ca juru – SP.


Foi o início de minha experiência como professor de teatro e também o meu primeiro emprego. Nunca havia trabalhado na vida e comecei logo com teatro. Isso pra mim foi motivo de muito orgulho e crescimento. Durante esses meses, com apenas dois alunos, desenvolvi os estudos teatrais sobre a peça “Essa propriedade está condenada” de Tenesse Willians. Muita ousadia, mas a ousadia é uma das belas características de quem está no frescor da juventude, que acha que tudo pode por não ter nada a perder.

Quanto eu ganhava? Financeiramente nada! Não era um trabalho remunerado. Me dediquei à esse projeto como voluntário por várias sextas-feiras. Mas o que não se pode calcular foi o que ganhei como experiência e crescimento profissional enquanto desenvolvia esse projeto.

Assim comecei a viver de teatro, esse foi o pontapé inicial...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Pós-Graduação

Em 2006, quatro anos após a formatura, decidi que era o momento de continuar os estudos acadêmicos. Digo isso porque acredito que nós, atores, não devemos e nem podemos nunca parar de estudar.

Era uma oportunidade de qualificar ainda mais o meu currículo e abrir novas portas para trabalhos como professor de teatro.

Na Universidade de Franca, durante um ano, com altos e baixos na qualificação dos profissionais envolvidos no curso, me tornei especialista em Teatro, Música e Dança para Educadores.

Não foi uma época tão intensa como vivi na faculdade, mas foi um momento necessário para minha carreira. Hoje consigo perceber como isso tudo me ajudou dentro dos trabalhos que posteriormente consegui.

E assim termino por aqui os relatos sobre minha formação acadêmica dentro da área teatral. Pelo menos por enquanto...

sábado, 27 de março de 2010

Faculdade de Artes Cênicas

Em agosto de 1998, ainda com 17 anos, comecei a cursar a faculdade de Artes Cênicas do Centro Universitário Barão de Mauá. Fiz parte da primeira turma. Escrevemos na história de Ribeirão Preto a implantação desse curso Universitário. Isso a duras penas.

Sem um espaço físico adequado, pois a reitoria não compreendia as necessidades técnicas para se implantar um curso como esse (e até hoje não sabe como lidar com a arte dentro de uma universidade), mas com uma equipe de profissionais de primeira linha comecei a mergulhar dentro de um estudo sistematizado, profundo e complexo da arte teatral.

Sentia-me pequeno, nada sabia de métodos e teorias. Os nomes dos principais encenadores da história do teatro soavam estranhos para mim. Os períodos da literatura dramática eram revelados como um grande mistério a ser desvendado. Tudo foi inédito! Saía de Cajuru, de segunda à sexta, no ônibus de estudantes, às 18h e só retornava em casa às 23h45, mas não havia cansaço que tirasse meu estímulo, minha ânsia e meu desejo de fazer esse curso.

Alguns professores se tornaram excelentes mestres. Pessoas que nunca esquecerei e que influenciaram em todo meu conhecimento e senso crítico, formando, realmente, cada etapa de minha pesquisa acadêmica. Como se esquecer de Amilton Monteiro, Roberto Vignati, Vicente Tutto Il Mondo, Adriana Balieiro, Claudinha, Sandra Corradini, Zé Maurício, Débora Vendramini e tantos outros que alimentaram em mim a chama do artista que sou.

Em 2002, em meio a lágrimas de saudade de toda a história que cada canto daquela sede, situada na Praça 7 de setembro, me trazia, da expectativa do mundo novo e desconhecido que viria e da vontade de continuar ao lado dos valiosos amigos, me despedi da vida estudantil e iniciei a carreira profissional como ATOR!

Saudade... Essa é a palavra que define aquele tempo de inocência. Saudade de Carol Veloni e seu jeito de mãe que me hospedava sempre em sua casa nos trabalhos de final de semana, saudade de Samantha Calsani, amiga íntima que estará para sempre em meu coração, de Juliana Prandini com seu jeito meigo e determinado, de Ronaldo Anelli que parecia ter vinvo ao mundo para fazer teatro, do Ítalo Sartori e Nim Casaroti que alegravam qualquer ambiente que estavam, da Selma de Lourdes, cara fechada, que se abriu depois de muito tempo em um sorriso meigo, Viviane Feitosa, Marli Vera e Rodrigo, pessoas generosas e Marina Reiff sempre impaciente com o curso, mas com uma doçura encantadora.

Posso dizer que só tive a ganhar fazendo esse curso. Seja em conhecimento, experiência de vida ou amizades profundas, ter feito o tão sonhado curso de Artes Cênicas foi a porta aberta para o mundo que estou hoje!

“Quando uma porta se fecha outra logo se abre”
(trecho de Aids Nós, de Roberto Vignati)

terça-feira, 23 de março de 2010

Minha Vida na Arte

Acendendo a Chama

Ainda muito pequeno, no interior de São Paulo, no porão de uma casa antiga, construída em 1903, na Cidade de Cajuru, comecei a criar histórias, personagens e assim iniciei minha vida na arte. Não tem porque desprezar toda essa experiência mágica, nem porque menosprezar a iniciação na teatralidade por causa de tão pouca idade. Dessa forma, reunindo os amigos que moravam por perto, com uma caixa de bicicleta pintada e recortada em pequenas janelas, com fantoches nas mãos e a trilha executada em uma pequena “sonata” comecei, sem consciência alguma, a mergulhar nessa arte que se tornaria a minha vida.
Com 13 anos, quando todos os meus primos, na noite de Natal, ganhavam brinquedos como presentes eu me alegrava em receber um livro com cinco peças da Maria Clara Machado. Naquelas férias eu me deliciei na rede lendo e imaginando aquelas histórias. Como eu queria atuar. Cada vez mais forte essa vocação gritava em meu peito.
Na escola, a professora de português, dona Leninha, propôs que montássemos uma peça. Escolhi o texto “História do País dos Avessos” de Edson Gabriel Garcia. Assumi o papel de ator, interpretando o Rei Linguão, diretor, cuidando das marcações dos colegas de classe, que sem entender contribuíam com minha loucura e se divertiam com isso, cenógrafo, usando a cadeira de balanço da minha avó e figurinista, vestindo o roupão de banho azul do meu pai.
Segui fazendo teatro na escola e quando me perguntavam o que eu gostaria de ser, quando crescesse, eu, sem titubear, logo respondia: ATOR!
Sonhos de uma infância bonita e intensa...

Ateando Fogo

É interessante perceber como sempre aliei minha vontade de representar com as atividades que desempenhava. Tive um grande amigo, Daniel, que possuía uma câmera. Usávamos minha casa como locação. Eu criava os roteiros, outros amigos participavam, o Daniel filmava e, logo, estava pronto uma dezena de filmes caseiros. Divertíamos-nos demais com isso.
Além do meio escolar fiz teatro na semana de jogos da cidade, jogos interclubes e na igreja. Gente, como eu contei, através do Teatro, a vida dos Santos! Foram momentos intensos, mas eu queria mais. Queria ir além.
Chegou, então, o vestibular. Algumas pessoas diziam que eu deveria cursar alguma faculdade que rendesse dinheiro, mas eu queria Artes Cênicas. E num dia de copa do mundo, enquanto todo mundo comemorava a vitória do Brasil, em julho de 1998 eu comemorava a minha entrada na faculdade de Artes Cênicas.
Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vivendo de Teatro

Resolvi escrever esse blog para partilhar com todos as delícias e as dificuldades de viver de teatro. Assumir que quer ser artista num país onde a cultura é renegada a um segundo plano é uma atitude de fé e coragem. Fé para acreditar que é possível transformar a nossa realidade e fazer a diferença e coragem para lutar com todas as forças por nossos direitos enquanto artistas.
Sou ator por formação. Fiz a tão sonhada Faculdade de Artes Cênicas. Durante o percurso, por causa da necessidade fincanceira, me tornei professor. É uma luta árdua, mas me apaixonei pela área da arte-educação. E em consequência me tornei diretor. Talvez tudo isso sempre tenha pulsado dentro de mim. Talvez eu seja vocacionado para atuar nessas três áreas. O que sei é que tudo isso me completa e me realiza profissionalmente.
Nas próximas postagens vou partilhar com vocês o dia-a-dia de quem 'rebola' para viver de teatro. Um pouco da minha agenda pessoal, momentos de dores, alegrias, como busquei por cada trabalho, etc...
Um beijo e merda!