Ribeirão Preto é uma cidade que eu amo. Desde criança essa terra me causava enorme fascínio. Um dia recebi um telefonema de minha querida amiga Samantha Calsani dizendo que estavam procurando um professor de teatro para dar aulas no Ribeirão em Cena.
Participei de uma entrevista com o coordenador Gilson Filho e ao final já estava contratado.
Além de receber um ótimo salário havia a possibilidade de crescimento profissional e a afinidade com uma metodologia que priorizava a formação do aluno-artista.
Foram anos de aulas de voz e cultura popular brasileira. Várias direções de peças, noites temáticas, intervenções cênicas. Incontáveis manifestações políticas para garantir o futuro da ONG.
Enquanto trabalhei por lá a estrutura era a seguinte: a Usina Santa Elisa pagava o aluguel do teatro-escola, a prefeitura pagava os salários dos funcionários e a ONG administrava tudo.
Engraçado como o nome Espaço Cultural Santa Elisa pegou mais que Ribeirão em Cena. Foi um período intenso, conheci alunos que se tornaram amigos pessoais. Dias inesquecíveis de muita criação, pressão, risos e lágrimas, crescimentos e frustrações. Coisas que precisamos passar para nossa lapidação profissional.
Brecht, Antunes, Taoísmo, Humanismo, Paulo Freire, Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Bucovski, Jorge Amado, Hilda Hilst, e tantos nomes e pesquisas foram feitas para aperfeiçoar a criação livre e espontânea do Ator.
Em 2005 dirigi um sucesso de público. Eliane Ganem, a partir da literatura de cordel, recriou o mito do Fausto com um olhar extremamente brasileiro. Faustino, um Fausto Nordestino foi um espetáculo que misturou dança, sanfona e tecido de chita. Somando forças dos alunos, amigos e familiares, conseguimos uma produção estética bastante característica e demos uma cara cômica para um lugar que levava as coisas de forma tão sisuda. Conseguimos mostrar que para o pensamento crítico sobre onde estão alicerçados nossos valores a comédia nos ajuda a refletir melhor. Fomos para Febem, fizemos temporada no pequenino Espaço Débora Duboc e muita coisa ainda nos aguardava. Aquela força iria gerar e motivar uma geração nova de atores e atrizes e me colocar na situação, talvez mais séria, como diretor.
Foram quase 5 anos de dedicação no Ribeirão em Cena. Muitas peças foram montadas, incontáveis alunos passaram por mim. Um belo dia de janeiro de 2008 recebi, por telefone, a informação de que eu estava demitido. Perguntei o motivo, ainda atordoado e sem esperar por aqui naquele momento, e fui informado que era uma pressão política.
Perdi o chão por uma semana até receber outros dois telefonemas: um, do Senac atribuindo para mim a coordenação do então curso Técnico Ator, outro telefonema do Sesc, me convidando para iniciar o projeto com a terceira idade.
Coisas de quem vive de teatro... Um dia se perde muito, outro dia se ganha muito mais... Ganha-se asas maiores que te fazem voar além do imaginável!
‘O destino a gente faz por meio do próprio braço' (Faustino, um Fausto Nordestino, de Eliane Ganem)