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Esse blog é um espaço para a reflexão de como podemos fazer para Viver de Teatro.
É possível? Vale a pena?
Espero que meus relatos e os comentários postados aqui por vocês possam servir de debate nessa discussão.



sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Puta o Relógio e o Ator

(por Fausto Ribeiro)

“Bem vindos, cavalheiros! As damas que tem dedinhos dos pés livres de calos vão dançar com os senhores.

 –Ah minhas senhoras! Qual de vós irá agora negar-se a dar uma volta pelo salão? Aquela que fizer cú doce, dela direi que tem calos.”

 Toda noite que ELE dizia este trecho do texto de Shakespeare, ela se arrepiava e passando as mãos em seu ante-braço confirmava o eriçar dos pelos. Se controlava para não levantar da poltrona e dizer em alto e bom som que ela não tinha calo nos dedos, pois era super atenciosa  com os pés e cuidava deles desde criancinha. Perdida em seus devaneios mais sinceros somente volta a si quando a platéia aplaudia fervorosamente o fim trágico da peça dos dois jovens apaixonados de Verona.
As luzes acendiam e logo uma movimentação estranha de pessoas iam ao camarim pegar autógrafos com os atores. Ela também queria. Queria ir dizer todas as falas do personagem que ELE interpretava, mas lembrava-se em seguida que tinha que voltar para seu quarto-casa. O último ônibus passaria dentro de alguns instantes.

Amanhecera o dia, Ele em sua casa com um leve amargo na boca, típico de quem toma umas “talangadas de álcool” na noite anterior. Deveras, pois fizera sucesso e os amigos o levaram para beber. Lavou o rosto, e mirando-se no espelho viu dentro de seus olhos sua imagem refletida, sorriu e com uma voz preguiçosa disse “bom dia meu caro”, o telefone tocou…

Na baixada da cidade subindo o mercado municipal o dia já começara em um destes botecos repletos de bêbados amanhecidos e putas encharcadas de maquiagem. Nota-se que estes recintos quase não fecham suas portas devido a alta rotatividade de clientes. Ela, ali no seu nicho sorria e narrava aos ouvintes atentos as falas da peça que assistira na noite anterior. Era um alvoroço só. Enquanto suas amigas comentavam dos capítulos das novelas, comum entre as demais, ela se inflava e sorria trôpega diante do olhares atentos dos seus. Logo sentia-se a primeira dama do puteiro. E era.

Um vendedor ambulante de relógio, destes que andam no centro de cidades, escutava ávido à conversa. Colocou a mão na carteira e nada. O que tinha era para o almoço. Não titubeou, pegou um relógio e ofereceu à primeira dama do puteiro. Seu rosto ficou vermelho. Mesmo com aquele excesso de maquilagem notava-se. Aceitou. As amigas riam enciumadas. Ela colocando o relógio no pulso esquerdo, o que arrepiava, olhou de esguio para o vendedor, sorriu e perguntou se o tal gostaria de ter seu autógrafo. Foram para o seu quarto-casa.
No fim da tarde fora se certificar das horas, o relógio não estava funcionando, riu e dormiu.

Fausto Ribeiro
Ator de Teatro e integrante do Grupo Engasga Gato.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Cadê o público?

Uma aluna de Artes (Teatro para Educadores) disse que as salas de espetáculos estão cada vez mais vazias em virtude dos preços elevados dos ingressos.

Concordo que os valores abusivos podem ser um dos fatores responsáveis pela falta de público. Mas não o único!

O SESC, espalhado por diversas cidades do estado de SP trazem em suas programações espetáculos de alto nível de qualidade com valores baixíssimos ou gratuitos. Mas será que o público quer ver o Teatro ou o tal ator da novela de perto? Com essa consciência a arte perde o lugar para a "tietagem."

Muitas cidades pequenas investem em espetáculos gratuitos para a população (eu mesmo tenho rodado por muitas delas com a Cia BOCCACCIONE) em praças, casas de cultura e salões de clubes e tenho acompanhado a luta por conseguirem público, tendo, muitas vezes, que recorrerem às escolas que liberam, contrariadamente, seus alunos para servirem de plateia.

Diversas questões podemos levantar, mas em nosso país a questão é cultural.

Sabem por que os estádios de futebol vivem cheios?
Porque em todas as escolas temos uma quadra e um professor de educação física que ensina futebol.

Em quantas escolas temos um espaço para o teatro e um professor preparado que ensina essa arte?

domingo, 17 de abril de 2011

Ator que não lê tem que se f...

(tem que se formar...)

Participando de um evento chamado “Prosa de Saberes” organizado pela Oficina Cultural Cândido Portinari, em Ribeirão Preto, com a atriz Graça Berman pude ouvi-la dizer:

- “Estamos cheios de atores que só lêem a cena onde eles aparecem. Não têm a mínima curiosidade de conhecer o texto todo. Sou de uma escola onde deveríamos ler todos os textos daquele autor para compreender sua forma de pensar o mundo, sua estética...”

Concordo em gênero, número e grau! Muitas vezes sou selecionador em testes de aptidão e me deparo com candidatos despreparados que não demonstram o mínimo de conhecimento sobre a cena preparada. Quando os questiono se leram a peça toda, envergonhadamente dizem que não. Pelos menos são sinceros!

Alguns grupos que se dizem profissionais não sabem o que significa a palavra PESQUISA. Não mergulham no tema, não conhecem o autor, não discutem sobre as cenas e os objetivos de cada personagem em relação ao superobjetivo.

Stanislavski deve se revirar no túmulo. Depois de desenvolver um método de estudo e preparação para os atores, ainda hoje há quem não se prepara de forma alguma... o tal ator intuitivo. Intuição de que? Se ainda tivesse um belo repertório de vida, se lesse, fosse ao teatro, exposições, se contemplasse a boa música.

Há quem diga que Stanislavski está ultrapassado. Mas ultrapassado por quem? Por alguém que nem saiu da linha de partida?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Teatro Didático - ah, que coisa chata!

Vale pensar que, quando usamos a fantasia, a metáfora, para explicar a nossa vida tudo se torna mais poético e divertido. Muitas vezes as peças de teatro são mais interessantes aos professores, que utilizam esse recurso para darem suas aulas com lições didáticas, do que para os alunos, que querem "fugir da realidade".

Permitir ao aluno essa fuga da realidade é uma função que arte deve estar atenta. Sabemos que quanto mais artística se torna a visão sobre o mundo mais consciência sobre esse mesmo mundo nós tomamos.
Além disso não podemos nos esquecer que as aulas de teatro existem para que os alunos possam se expressar livremente, para que eles criem suas histórias e não se tornem meramente reprodutores de marcações e de textos.

Estamos permitindo aos nossos alunos que eles possam mostrar a que vieram? Damos espaços para que eles "tomem partido"? Incentivamos o mergulho no mundo da imaginação, da criação?
Espontaneidade, é isso que o Teatro na Sala de Aula deve buscar. Os recursos didáticos até que podem, e devem, ser utilizados, como a dramatização de conceitos referentes às disciplinas, mas prefiro que a arte preste o serviço de sensibilizar com poesia e desenvolver o olhar crítico desse ser humano em transformação!

domingo, 10 de abril de 2011

Reflitam comigo...

A arte da representação ou Teatro é algo tão antigo quanto a própria humanidade. Os estudiosos sobre o assunto não tem um consenso a respeito do surgimento do teatro, mas há algumas idéias a respeito disso. A expressão de sentimentos, bem como a comunicação podem ter sido a mola propulsora da invenção do Teatro.

Nossos antepassados, conhecidos como “homens pré-históricos”, já praticavam ritos em que faziam representações cênicas com função mágica e narrativa. Utilizavam-se de elementos musicais, movimentos corporais e pinturas. Desta forma, o Teatro surgiu com o próprio homem, assim como a dança, a música e a pintura, usadas em seus rituais para a caça, em louvor aos deuses e para contar histórias.

Já nessa época, utilizava-se o artifício de fingir ser outro indivíduo ou outra pessoa, que vivia outra vida e agia apresentando acontecimentos que faziam parte do seu cotidiano. Num ambiente perigoso e desconhecido, abrigando-se em cavernas, nossos parentes distantes reuniam-se ao redor de uma fogueira, no fim de um dia difícil, contando suas aventuras numa terra hostil. E sabe como é, uma história puxa a outra, e vai surgindo a necessidade de mostrar como se agiu em determinado momento e como tal pessoa ou animal agiu em outro. Pronto! Já está caracterizado o fenômeno teatral, pois o teatro existe quando há:

ATOR - TEXTO - ESPECTADOR

E pra você?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Melodrama

(por Jonas Villar)

Viver de Teatro...

Esta frase soa mais como um suspiro do que uma pergunta, mas para muitos a resposta vem sem pestanejar: SIM, É POSSÍVEL!

Agora, se vale à pena ou não? Essa é outra questão.

Aos 12 anos optei pelo campo das Artes e desde lá nunca tive nenhuma crise vocacional – àquelas que todos têm no colegial ou cursinho que nos levam a picos emocionais equivalentes ao auge de uma TPM (acho?)– e quando tudo estava resolvido e eu com meus 20 anos de idade e no segundo ano da faculdade... Crise!

Conversei com meus pais, amigos, namorada, pró-reitoria e tudo mais o que poderia consultar para mudar de graduação. Tentei transferir para o curso de Direito e de duas vagas ociosas fiquei em terceiro. Mais frustração.

Não queria mais essa vida improvável de artista, sem valorização, campo restrito e estava decido que sairia da faculdade de qualquer maneira. E como todo jovem bem resolvido sobre sua condição pessoal, mudei de opinião.

Formei em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto e em agosto de 2010 me tornei estatística do IBGE tendo que procurar outras formas empregatícias para me sustentar. Venho há alguns meses entre idas e vindas, propostas, projetos e desistências, mas me sinto feliz por viver em Teatro.

Talvez essa seja a questão: Viver de ou em Teatro?

Claro que sempre há uma exceção à regra, mas viver de Teatro realmente é muito difícil, requer um tempo de carreira, uma boa equipe, alguns prêmios e visibilidade para que as pessoas consigam ver em sua Arte algo que lhes valha a pena e daí por diante é que vem o retorno financeiro. Diferentemente é viver em Teatro, para estar em/no Teatro é necessário paixão, dedicação que transcende assinalar ou não a opção correta no ato do vestibular. É preciso Amar esta profissão para estar nela, pois o retorno pra nós é muito mais demorado e sofrível do que para as outras pessoas.

Sofremos a indiferença alheia, dançamos pra sobreviver, cantamos pra viver e quando apagam nossas luzes buscamos outro refletor e iniciamos outra fábula ainda mais mágica que a anterior. E quando nos cansamos deste melodrama real é a magia de poder se reinventar no Teatro que nos dá forças para continuar na vida.

Não sei se vale à pena viver de Teatro, ele ainda não me sustenta e, portanto não consigo responder a esta pergunta. Hoje o que posso dizer para todos vocês é que apenas passei pelo prólogo de minha vida, ainda tenho todos os episódios para desenvolver até chegar ao meu epílogo, mas para isso estou correndo atrás, me esforçando e sendo feliz por Viver em Teatro.



Jonas Villar é bacharel em Direção Teatral pela Universidade Federal de Ouro Preto

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quero apenas trabalhar como ator!

Um querido aluno foi assistir a uma peça de teatro e, ao final, no debate, uma pessoa perguntou:
- Como vocês fazem para sobreviver nesta área?
Entre alguns exemplos o ator reforçou:
- Damos aulas para nos manter com um salário fixo.
Meu aluno voltou para casa mais intrigado com essa colocação do que refletindo sobre a peça. Ora, ele já foi professor e não se identificou. Não professor de teatro, mas professor de Geografia.
Encucado com a questão diretamente ele me procurou no facebook, abriu a janelinha do bate-papo e desabafou comigo sua insegurança acerca do mercado de trabalho.

Claro que o ator foi extremamente honesto. Esse ator, eu e milhares de colegas de profissão buscamos essa segurança financeira nas inúmeras aulas, oficinas, workshops... Mas não é o único meio. Percebemos claramente a realidade de Ribeirão Preto se transformando nos últimos anos. Com diversos profissionais formados pelo curso Técnico e pela Graduação a cidade percebe a demanda por uma abertura de espaços na área teatral. O SESC se transformou num grande parceiro, investindo em contações de Histórias, Leituras Dramáticas, incentivando novas montagens e fomentando o projeto de Itinerância pelas escolas Municipais.

Além disso existe uma vida Teatral imensa fora de nossa cidade. Além do eixo Rio-SP podemos buscar vínculos em cursos específicos que algumas companhias oferecem e, se perceberem a identificação desse ator com a linguagem desenvolvida pelo grupo, certamente essa união poderá gerar frutos.

Em vários outros “posts” aqui neste BLOG discorri sobre assuntos ligados ao marketing pessoal, o compromisso com a ética, a realização de um trabalho de qualidade e o vínculo com pessoas pesquisadoras das Artes Cênicas.

Talento, dedicação, muito estudo e ralação com uma dose de sorte são os ingredientes para uma carreira de sucesso!

Merd®a!