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Esse blog é um espaço para a reflexão de como podemos fazer para Viver de Teatro.
É possível? Vale a pena?
Espero que meus relatos e os comentários postados aqui por vocês possam servir de debate nessa discussão.



domingo, 16 de maio de 2010

Projetos Sociais



Sou envolvido em dois projetos sociais que tem o desejo de inserir os jovens que estão a beira da marginalidade na área cultural.
Em Cravinhos já estou há 4 anos e o projeto rende frutos incríveis. Hoje a turma está aberta a experimentação teatral, se envolve nos exercícios e se lança em cenas das mais variadas e criam o tempo todo.
Mas não fique pensando que sempre foi fácil. No início, envolver os jovens era um desafio. Saí muitas vezes das aulas desanimado, sem voz, sem desejo algum de voltar. E, se continuei, foi por causa do dinheiro. Sim, para viver de teatro é preciso muito sacrifício. Nem todos os trabalhos são os melhores do mundo e nem todos os projetos culturais te dão enorme prazer ao realizar.
Minha primeira recompensa veio com a seguinte história: Um jovem, durante as improvisações, estava muito bem num determinado papel. Quando trouxe o texto escrito para eles realizarem uma leitura, pedi para aquele jovem ler determinada personagem. Ele me surpreendeu dizendo que não sabia ler. Meu coração partiu. Senti pena, medo e muitas outras coisas. Mas ele disse que iria levar para a casa o texto e que a irmã o ajudaria a decorar. Confiei nele e foi isso que aconteceu. A irmã lia o texto em voz alta e ele memorizava. Uma semana depois ele estava no ensaio com o texto decoradíssimo e os outros, que sabiam ler, nem tinham estudado o texto em casa. Nos apresentamos. Foi um sucesso! E aí aconteceu a magia. Quando uma pessoa se apresenta e recebe os aplausos no final, alguma coisa dentro dela muda. E ele se transformou. Fiquei sabendo que ele havia procurado a coordenação desse projeto para pedir que o matriculassem em uma escola para que ele pudesse aprender a ler para realizar outros papeis no teatro.
São histórias como essa que impulsionam a seguir, mesmo em ocasiões adversas.
Hoje continuo em Cravinhos e iniciei um projeto semelhante em Serrana. Além de serem pequenas cidades do interior de SP essas cidades têm em comum muitas coisas. Jovens desassistidos pelo governo, pessoas sem acesso a cultura, mas que, quando regadas pela arte, florescem com talentos valiosíssimos.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Oficina de Artes



Faz parte da missão de viver de teatro, em minha vida, dar aulas. E isso me revigora. A cada ano uma turma nova, novos alunos, novos desafios.
Convidado por Beth Pizani a integrar o elenco de professores da Oficina de Artes já me dedico, há um bom tempo, a ministrar aulas de teatro num curso livre e muito dinâmico.
O perfil dos alunos é o mais variado possível. Desde aqueles que querem seguir a carreira como ator até outros que fazem para perder a timidez ou por simples diversão.
Aulas descontraídas e peças deliciosas colaboram para me envolver por mais de 4 anos nessa escola. Além disso, conto com o apoio em relação a figurino e cenário e de um suporte técnico de dar inveja. A infra-estrutura da sala de teatro é de primeira linha. Um acervo fantástico de acessórios e adereços compõem o espaço cênico. O palquinho é uma graça, me lembra demais as imagens do Tablado (RJ).
 Sabe um lugar gostoso de estar? Lá é um lugar assim.

sábado, 8 de maio de 2010

SENAC

Em 2007, junto com a turma Técnico Ator, iniciei como professor no Senac – Ribeirão Preto como docente na disciplina de Interpretação. Uma turma interessante, plural, com talentosos misturados com esforçados, e que resultou na montagem da peça O Santo Milagroso de Lauro César Muniz. Durante o andamento do curso recebi o convite para ser coordenador, organizando cronograma, analisando a proposta pedagógica do curso em andamento e agindo na relação dos alunos com a entidade.


Hoje o curso mudou de nome, chama-se Técnico em Arte Dramática por determinação do MEC e estou mais familiarizado com as burocracias exigidas e as dificuldades em se implantar um curso de teatro num espaço hostil à área cultural.

O que tem de muito bonito dentro disso tudo é o desejo, o brilho nos olhos, que a maioria dos alunos mostra. Essas coisas compensam aqueles alunos que querem que o curso, os horários e as disciplinas se adequem às suas vontades e alguns professores que insistem em conquistar seu espaço atropelando os outros.

Estar no Senac é motivo de muita alegria para mim. Pagamento em dia, direito a férias e registro em carteira é um privilégio para quem decide viver de teatro nesse país. Muitas vezes parece que nossa arte não é trabalho e que fazemos isso por amor apenas. É claro que somos apaixonados pelo nosso ofício, mas ser reconhecido, valorizado e remunerado faz parte da dignidade de quem dedica a vida para dar ao mundo um olhar artístico da realidade.