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Esse blog é um espaço para a reflexão de como podemos fazer para Viver de Teatro.
É possível? Vale a pena?
Espero que meus relatos e os comentários postados aqui por vocês possam servir de debate nessa discussão.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Nomeando um grupo de teatro

“E o que é um nome?” Ah, Sônia, porque me persegue?

Um nome de um grupo de teatro não segue uma regra para ser esolhido.

Um nome pode apenas ser um nome... Pode revelar uma característica da linguagem estética do grupo, pode ter aparecido “do nada” numa reunião despojada entre os integrantes.

O nome também pode ter sido um presente de algum padrinho, ou qualquer outra coisa. Ao invés de buscar um SENTIDO busque uma identificação.

Existem diversos grupos teatrais com seus diversos nomes, cito aqui alguns de Ribeirão Preto: BOCCACCIONE, ENGASGA GATO, LOS MUCHOS TCHÁ TCHÁ TCHÁ, ZIBALDONI, FORA DO SÉRIO, ANDARILHOS, TERTÚLIA, ESTÔMAGO, QUERATINA, COMPANHIA DAS CENAS, CORNUCÓPIA, AGNUS ARTE, ACIMA DO BEM E DO MAL, AINDA SEM NOME

Certamente deixei muitos de fora, mas só para uma demonstração bairrista da diversidade de nomes, sentidos e significados.

Não é fácil nomear, não é legal rotular, mas precisamos de uma identificação artística. Sempre é bom buscar por um nome e se esse momento possibilitar o debate, a amplitude do conhecimento e a sensibilidade artística que a escolha de um nome seja um momento valorizado, demorado e questionado!

Política barata dentro de grupos NÃO!!!

Chega a ser patético algumas pessoas que fazem, dentro dos grupos teatrais que participam, uma organização política de dar inveja à Brasília!

Não estou dizendo de panelinhas, quando pessoas que possuem afinidades se encontram com mais freqüência, como comumente vemos nas escolas, onde aquele grupo só deseja realizar o trabalho, preparar a cena entre os integrantes de sempre...

Falo aqui de reunião, conspiração, busca por votos e sabe lá o preço do “mensalão” teatral que estão pagando. Elogios em excesso se tornam diplomacia, demagogia muda de nome para ética e por aí vai. Tudo isso em nome do poder de decisão que chega desde a escolha do nome do grupo às decisões mais sérias que não deveriam ser tomadas por democracia. Aliás o democrático demais me incomoda, afinal “toda unanimidade é burra”, já dizia Nelson Rodrigues.

Ora, se temos pessoas com talentos e competências diversas, acredito que o mais sensato seja delegar à essas pessoas o poder de discernimento sobre questões que lhes cabem.

Outro dia, conversando com uma atriz da área, que revelava sua insatisfação sobre esse processo politiqueiro percebi como isso tudo pode afundar a arte, o processo de pesquisa, desintegrar um grupo todo.

Ela deixou o seu grupo. Junto com ela começamos a nos questionar...

Como promover o diálogo, sempre aberto sem ferir os egos de nós, atores, que temos em nossa essência, entre outras qualidades, a vaidade? Como compreender o caminho para o onde o grupo quer ir, privilegiando os desejos pessoais sem perder o foco da chama inicial que reuniu todas essas pessoas? Como permitir que amizades não deturpem o sentido da reunião daquele grupo, que é muito maior do que assuntos pós-balada?

Não consigo responder todas essas questões por outros, mas preciso refletir por mim...

Foi o que ela não fez. Ela não procurou em si a resposta, ela esperava dos outros a mudança e isso faz muita diferença!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sou apenas um homem de Teatro

"Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro. Quem é capaz de dedicar toda a sua vida à humanidade e à paixão existentes nestes metros de tablado, esse é um homem de teatro"

Esse trecho da peça "Liberdade, Liberdade" escrita por Millôr Fernandes e Flávio Rangel resume muita coisa do que sinto e anseio viver!

sábado, 17 de setembro de 2011

Manifesto para que não fechem a Faculdade de Teatro no Centro Universitário Barão de Mauá

Foi com dor no coração que participei de uma manifestação na sede do Centro Universitário Barão de Mauá.

Neste local, em 1998, comecei a faculdade, que antigamente chamava-se Artes Cênicas e hoje é Teatro.

Muitas lutas nós, da primeira turma, tivemos que abraçar: local adequado, corpo docente preparado, apoio da instituição... Naquele tempo Amilton Monteiro era o coordenador (saudade).

Hoje a previsão é a de que o curso não existirá mais, apenas formarão os alunos que estão e não abrirão mais vestibular. Motivo: o curso não dá LUCRO!

Aprendi, no meu modesto conhecimento sobre administração, que para você ter lucro, antes você precisa INVESTIR.

Onde percebemos investimento da Barão de Mauá no curso de Teatro? Num campus que delega o subsolo para as aulas, na falta de equipamentos básicos (som e luz) modernizados, numa sala de espetáculo que recebe os pais dos alunos no final de cada ano sem um ar condicionado?

Ora, quem pode pagar R$800,00 por mês exige, pelo menos, um mínimo de qualidade nos serviços estruturais.

A equipe docente é boa, já passou por altos e baixo, mas a que está em vigor, atualmente, consegue se entrosar bem com propostas pedagógicas antenadas com o teatro contemporâneo. Mas isso não basta.

O custo é muito alto. Um aluno de administração, que paga quase o mesmo valor, já consegue ganhar o dobro quando termina a faculdade, um aluno de teatro saberá quando irá repor esse investimento.

Mas uma faculdade de Teatro é muito mais que isso. É o local onde ainda pulsa o coração... É onde os questionamentos podem ser feitos, onde o grito de liberdade pode ser ouvido. Não precisa ter lucro! Basta qualquer “marketeiro” medíocre pensar que irá constatar que os inúmeros festivais que esses alunos tem ido, as apresentações na cidade, enfim... tudo isso agrega valor de marketing para a faculdade.

É triste constatar que em nome do lucro uma tradição é jogada no lixo...

Espero que esta ação faça-os pensarem melhor... Caso contrário fica a sugestão: Transformem a sede na rua Ramos de Azevedo num shopping Center, aí sim terão lucro!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Crítica - UBU REI - FESTIVALE

Como não houve espaço para o bate-papo no FESTIVALE, resolvi falar um pouco, aqui mesmo, sobre a excelente crítica que recebemos de Alexandre Mate – Doutor em História Social pela USP e professor do instituto de Artes da UNESP – São Paulo.

Os comentários de Alexandre Mate estão itálico e a crítica completa pode ser lida no site do Festival.

http://www.fccr.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1280:criticas-festivale&catid=81:festivale&Itemid=88#um_ubu







“O primeiro destaque é levar Ubu Rei para os logradouros públicos. Segundo é construir a obra a partir de diversos expedientes ligados ao teatro popular e, também, ao teatro épico, especialmente aquele sistematizado por Bertolt Brecht.”



Quando resolvemos pensar em um novo trabalho de rua o texto UBU REI de Alfred Jarry não saída da minha cabeça.
A idéia era utilizar a rua como espaço de criação e exploração espacial. A proposta era que as cenas pudessem ocorrer num andaime, com seus planos e possibilidades.


“No geral, apesar de o épico-brechtiano pressupor ausência de unidade estilística, a encenação dos boccaccioni é uma grande e escatológica farsa.”



Uma outra idéia também me impulsionava: inserir pessoas, que tivessem experiências com teatro ou não, em uma oficina preparatória para a peça. A intenção era a de que essas pessoas pudessem participar do espetáculo, com figurinos, marcações e textos. Queria levar às últimas conseqüências a improvisação que a rua possibilita. Esse jogo só seria possível com uma dedicação imensa dos atores numa doação generosa de tempo entre sua atuação e a condução dos oficinandos.





A Cia. Teatral Boccaccione é formada por um bando de atores, mas – e o lance é genial – para apresentar a obra, eles oferecem uma oficina da qual saem participantes, que se somam ao bando original, cuja função cênica principal e a de coro.




Fazia tempo que eu não era dirigido e minha vocação chamava aos gritos! Convidamos, então, a querida Tânia Alonso para dirigir o espetáculo com essas idéias concebidas.
O resultado está aí: um espetáculo anárquico que vem ganhando espaço e projetando a companhia por grandes festivais.

“Finalizo cumprimentando a diretora Tânia Alonso que dirige a obra e conseguiu criar um surpreendente, farsesco e interessantíssimo espetáculo de rua.”

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Festa de Comemoração - 5 anos - Cia. Teatral Boccaccione

5 anos de vida de um grupo de teatro!

Parece pouco, mas se tratando de arte, de um grupo de teatro que mantém a maior parte de seus integrantes com o elenco original e sediado no interior do estado, fora do circuito Rio – SP é uma vitória!

A cultura popular nos moveu às pesquisas que se tornaram nossa estética: Teatro de Rua, Música, o Lúdico em Cena... Tantas coisas que não caberiam colocar aqui.

No dia 10 de setembro o Boccaccione reuniu amigos, ex-integrantes, galera da nova e da antiga  fase do teatro de Ribeirão Preto, alunos, professores, colegas de trabalho. Tanta gente para comemorar não só o aniversário de um grupo, mas para comemorar também a vida teatral que se modificou bastante nos últimos anos.

O local para a comemoração não poderia ter sido melhor: Casa das Artes. Nesse espaço nós ensaiamos um por um bom tempo antes de termos nossa sede própria. Quando a Cia Ainda sem Nome se mudou pra lá nós fizemos a abertura com a peça Ai, Amor... enfim! Um local cheio de artes e história para nós...

Para uma festa tão importante nossas roupas (pouco discretas) foram confeccionas por nossa figurinista, que nos acompanha há anos: Zezé Cherubini.
Cantando para todos uma ex-integrante do grupo que hoje se dedica exclusivamente à música: Alessandra Ramos.
A querida Iana Montanha, atriz, dramaturga e que faz nossa iluminação na peça A IGREJA DO DIABO cuidou de todos os detalhes: Drinks, organização, segurança, depoimentos em vídeo...

Celebramos o Teatro, a vitória da paixão, a alegria de fazer (e viver) do que gosta.


domingo, 11 de setembro de 2011

Você tem vocação?


Outro dia um aluno me perguntou se ele tinha talento.

Comecei a refletir sobre isso. Não consigo mensurar o talento de uma pessoa assim, tão facilmente.

Talento está relacionado a valores, lembro-me aqui de uma passagem bíblica que se refere aos talentos, que era um dinheiro naquela parábola. (Está no Evangelho de Mateus, cap. 25).

Prefiro usar VOCAÇÃO. Vocação tem sua origem etimológica no latim (vocatione) que, entre outras coisas, quer dizer chamamento.

Talento é muito subjetivo. Um ator pode ser maravilhoso pra mim e não agradar você. Cada pessoa acaba julgando o valor do trabalho de acordo com conceitos pessoais.

Já a VOCAÇÃO vem do interior do indivíduo. Pra que você se sente chamado? Usando outra comparação com sentido religioso, os padres se questionam (ou deveriam) o tempo todo sobre sua vocação. Nós artistas também devíamos fazer o mesmo.

Você se sente chamado a fazer teatro?

Você pode responder com atitudes esse chamado, ou pode tentar negá-lo numa angustiante procura por realização material, de status ou de qualquer coisa, mas quando respondemos sim para nossa vocação artística e nos empenhamos no aprimoramento do trabalho a realização profissional e pessoal acontecem de forma plena! 

domingo, 4 de setembro de 2011

Brecht, o jornal e a rua

Bertold Brecht é um dos escritores fundamentais de teatro: revolucionou a teoria e a prática da dramaturgia e da encenação, mudou completamente a função e o sentido social do teatro, usando-o como arma de conscientização e politização.

Brecht era um pensador prático, que sempre recriava suas peças ou "experimentos sociológicos", como as preferia chamar, no intuito de aperfeiçoá-las. Pois era através delas que toda sua teoria, crítica e pensamento seriam expostos.

A intenção de usar o jornal como ponto de partida na preparação do ator que vai estudar o método brechtiano  amplia a visão e insere a arte no meio social como forma de denúncia ou transformação da sociedade.

Estar atento às questões políticas e econômicas possibilita ao ator uma visão crítica do mundo em que vive e uma análise profunda na criação de suas personagens.

Esse grito ecoará muito mais forte se a expressão dessa arte ocorrer fora das paredes dos edifícios teatrais, cada vez mais subservientes ao consumo de uma burguesia que procura entretenimento apenas e renega a arte.

A busca pela rua é uma forma de colocar o ator em contato com um público muitas vezes marginalizado, distante do teatro e da discussão social.

Brecht, jornal e rua se entrelaçam e se complementam como linguagem estética e discursiva. A forma de desenvolvimento dessa pesquisa deve ser prática, viva e pulsante. As experiências servirão de base para a conclusão do trabalho final. O que podemos esperar desse resultado é o que veremos com a III Turma de Artes Dramáticas do SENAC Ribeirão Preto.