Foto do espetáculo HAMLET - ESPECTRO DE SI MESMO
Com o mesmo título que o dramaturgo brasileiro Nelson
Rodrigues deu para uma de suas peças eu inicio o assunto aqui. A nudez ainda é
um impacto polêmico que permeia a arte teatral.
No auge dos anos 70 a nudez era uma forma libertária que
muitos artistas usavam para ecoar numa sociedade hipócrita e presa a padrões
morais. Mas o que é estranho é o fato de que ainda hoje temos pessoas que ficam
chocadas com essa atitude quando levada à cena.
Parece que o nu é até perdoado quando mostrado no cinema ou
nas artes plásticas, mas no teatro... Quanto barulho! Em alguns espetáculos que
dirigi introduzi algumas cenas de nudez, que pra mim tinham extrema coerência
com a proposta da peça. Em alguns momentos, belos e delicados, em outros,
escandalosos e eróticos.
O que impressiona é que, após o espetáculo, onde ocorrem
alguns debates, muitas pessoas não falam sobre a obra, a estética, mas
resumem-se em investigar como foi para o ator a sensação de ficar pelado (a) em
cena, mesmo que tenha mostrado apenas um mísero seio.
A sociedade ainda está arraigada ao comportamento da década
de 70? Mesmo com as ousadas novelas das 8h (ops! 9h) e com os vídeos que rolam
a solta pela internet? Muitos insistem em implicar com o teatro.
O fato mais interessante é que ainda deparo-me com atores,
candidatos ao teatro profissional, que ingressam um curso técnico profissionalizante
e que têm ainda esses pudores: “não estou preparado”, “meus pais nunca vão
aceitar”, “ainda não é a hora”, “meu corpo não tá legal”... Ora, um curso é um
momento para experimentar todo o potencial que é exigido de um ator e ficar nu
não deve passar pelo crivo da moral, dos pais, da vaidade do corpo e sim pela
questão: qual a necessidade? O que se quer dizer com isso em cena? Acontece que
essas pessoas, fechadas em seus motivos, não irão se convencer com os milhares
de argumentos que professores, diretores e colegas possam encontrar.
Então quando é a hora certa? A hora de tirar a roupa é
quando se pede, ou numa rubrica, ou numa sugestão de direção ou mesmo numa
proposta de cena. Os motivos estão lá, basta encontra-los ou cria-los.
Uma obra de arte não é feita para agradar aos pais, aos
namorados, aos amigos. É uma obra para ser apreciada. Se gostar, come mais, se
não gostar, come menos.
E eu tenho certeza... a gente ainda vai voltar nesse assunto
por aqui!
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